Mais sobre Mulambo da Lixeira

 Outra história...

Essa Pombagira é uma das principais da Falange das Mulambos. Ela tem uma personalidade forte, muito determinada.

A história:

O nome dela causa risos...

"Mulambo da Lixeira"

Muitos pensam que se dizer

Vinda da Lixeira é algo Caricato,

Engraçado ou ate mesmo vulgar...

Mas não é.

Essa história,

O motivo deste nome

É muito triste.

Duzentos anos atrás

Quando esta terra era governada

Por uma família Real

E os olhos de Deus não enxergavam

A crueldade dos homens

Aqui imperava a escravidão.

Os Negros e Índios eram escravos.

E a mãe dela era negra, escrava.

O pai dela um branco, abolicionista.

A mãe foi comprada por este homem

Um muito bom, que a alforriou.

Ele havia comprado e alforriado

Muitos e muitos para devolver

A liberdade que seus conterrâneos

Haviam roubado.

Ele era um dos poucos que

Lutava contra a escravidão.

Fazia isso porque podía, era rico

Podre de rico.

Ele era dono de uma fortuna

Imensurável,

Um fidalgo que a realeza

Aturava por gostar dos altos

Impostos que ele pagava.

Ele se casou com esta negra

Ela se apaixonou por ele

E ele por ela.

Ela era muito bela

E muito valente.

Eles tiveram uma filha.

Nascia ali uma jovem mestiça.

Como se chamava antigamente

"Mulata"

Negra de pele mais clara

Que a cor retinta de sua mãe.

A mãe morreu muito cedo

Vítima de uma das muitas doenças

Que os portugueses disseminavam.

O pai se foi quando ela tinha pouco

Mais de vinte anos.

Ele morreu pela idade.

Ela agora era herdeira de toda

A fortuna.

Dona dos cafezais

Dos canaviais

Dos milharais

Dos navios mercantes

Dos palacetes e catetes

E de todos milhares de torrões

De ouro da coroa

Que seu pai possuía.

Porém os parentes do pai

Brancos católicos

Não aceitavam ela como herdeira

E queriam tomar toda sua fortuna.

Diziam que ela nem gente era

Que por ser negra não tinha alma.

Porem pela documentação

Que existia

Pela certidão de nascimento,

O testemunho do povo e

Pelo testamento esmiuçado

Em informações sobre a herdeira

Ninguem poderia tomar nada dela.

Era rica, ostentava títulos de nobreza,

Era Condessa, Baronesa,

Era tudo que se podia ser.

A família do pai então enviou

O primo mais belo que ela tinha

Para pedir guarida a ela.

Um jovem hispânico

De cabelos loiros

Como um anjo de pintura gótica

Veio cheio de maldade

Com um plano para a enganar.

Ela era muito boa e caridosa

E abrigou o rapaz sem desconfiar.

Durante um ano ele foi galanteador

a cercava de carinho

Para que ela apaixona-se.

Ele conseguiu enganar a moça

E ao fazer um pedido de casamento

Ela aceitou.

Coitada, ela se casou na igreja...

No dia seguinte ela saiu

Para passear na cidade

E quando voltou para casa

Foi impedida de entrar.

Seu marido havia tomado tudo

Que era seu.

Ele forjou um quadro onde posava

Ao lado de uma moça branca

E dizia ser aquela da pintura

Sua verdadeira mulher.

Foi um golpe.

Ela viu na varanda de sua casa

Toda a família de seu pai

Que riam e debochavam dela

Ao ver os jagunços

A expulsando de lá.

Saiu com a roupa do corpo.

Sem alternativa

Foi para a cidade pedir ajuda.

Ela era negra como a mãe,

Ninguém a abrigou.

A cidade era cheia de portuguêses

Com seus hábitos de supremacia. Nojentos.

Ela teve de dormir no sarjeta.

Comer pão de esmola.

Depois de alguns dias

Ela estava acabada

Sua roupa rasgada

Estava suja e muito magra

Pela fome que passava.

Ela não havia sido criada para

Ser independente

Ela quando rica era

Cercada de criados que faziam tudo

Para ela não ter que fazer nada.

Ela estava sofrendo demais.

A cada dia deixava de ser

A boa a mansa moça

E se tornava amarga e violenta.

Foi então que uma carruagem

Que passava na cidade

Parou perto de onde ela estava

A janela se abriu a um rosto apareceu.

Uma linda mulher vestida de preto

Desceu com a ajuda do cocheiro

E se apresentou.

O nome dela não se lembra

Porém nos conhecemos ela hoje como

Maria Mulambo.

Mulambo viu a beleza da moça

E a chamou para trabalhar em

Sua casa de luz vermelha.

Ela aceitou.

Viver na rua não dava mais...

E então caiu na noite

Passou a usar roupas decotadas

Espartilhos apertados

Rouge nos lábios

E a se dar ao desfrute por dinheiro

Se tornando uma das maiores

Messalinas que já existiu.

Ela trabalhava para Maria Mulambo

Em vida assim como trabalha hoje

Na morte.

Ela era e ainda é uma das Mulambos.

Tempos depois amigos de seu pai

Que eram influentes na corte

Souberam da injustiça que ela

Havia sofrido

E colocaram a guarda para

Encontra-la e assim restituir

Tudo que era seu.

O marido sabendo disto se desesperou

Pois se fosse comprovado o golpe

Ele iria para a forca.

Decidiu então que o melhor modo

De se safar era matando a moça.

Ele então foi até o cabaré

Pagou para um homem se

Se passasse de cliente e a atraísse

Para os fundos do casarão.

Ela foi sem desconfiar

E em uma emboscada ele

Apareceu junto a seis de seus jagunços.

Ela a matou.

Ela recebeu sete facadas.

Agora ele era viúvo

E herdeiro dela

E ninguém poderia reclamar nada.

Eles arrastaram o corpo dela

Ate uma lixeira em uma encruzilhada

A jogaram dentro do lixo

Derramaram álcool em tudo

E atearam fogo.

Para o marido aquilo era o fim dela.

Mas não foi.

O corpo queimou

E junto com o corpo a doçura dela

Se foi.

Ela acordou em espírito

Cheia de perversidade

A vingança

Ela desejava a vingança mais do que tudo.

Ela morta era muito poderosa.

Foi então que ela passou a aparecer

Para seus assassinos

Ela os caçava como animais

Era uma alma infernal

Que os enlouqueceu

Os torturou

Ela aparecía em sonhos

Ela incorporava nas esposas

Ela fazia toda espécie de miséria

Bater na porta deles.

O marido adoeceu

Vomitava sangue

Ela gargalhava e vinha ate ele

Nos sonhos mordia a carne

Do homem de modo que ele

Sentía dores inimagináveis.

Ela foi aterrorizante

Nenhum demônio no quinto dos

Infernos perdia em nada para ela

Em sua vingança.

Foi assim que o marido e os jagunços

Não aguentaram mais e

Se suicidaram.

Um por um cortaram os próprios pulsos

Ou atiraram as próprias cabeças.

Depois de mortos ela não lhes deu paz

Ate hoje servem de seus escravos.

O poder que ela tem é enorme

Ela é Mulambo da Lixeira

Junto a Maria Farrapo

Tata Mulambo e Maria Mulambo

Elas são as lideres da falange.

Salve Mulambo da Lixeira!

Deus permita que nunca

Seja minha inimiga.

Os inimigos de Mulambo da Lixeira

Não encontram paz nem na morte.

Saravá Mulambo da Lixeira!

 Pois é do lixo que vem a maior riqueza!!!

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